dicas de cinema

Obras adaptadas para o cinema

As indicações desta semana propõem um paralelo entre o cinema e outras artes, em especial a literatura e o teatro. Quatro filmes que partem de obras originárias para explorar as possibilidades do fazer cinematográfico. Quatro adaptações que nos ajudam a compreender a importância do legado deixado por outras linguagens para o cinema.

Aliás, cabe aqui uma reflexão sobre o próprio termo “adaptação”. Quem nunca se incomodou com as diferenças existentes numa adaptação para o cinema de um livro favorito? Com mudanças na caracterização de determinada personagem ou inserções inusitadas que não existiam na história original? É por isso que diversos realizadores e teóricos sugerem e defendem outras palavras possíveis para descrever a ideia de recontar ou reimaginar uma obra. Transcriação, transmutação e recriação são algumas delas. O importante é dar-se conta da singularidade e da autonomia de cada obra, independentemente de sua fonte primária. Ou seja, tudo bem caso determinado roteirista ou diretor, por exemplo, tome liberdades diante de um texto literário. Na verdade, essas modificações ou alterações possíveis são frequentemente muito saudáveis e oportunas, por mais que os admiradores mais fiéis se mantenham apegados ao seu conteúdo original.

No caso do cinema, a autoria de um filme e a sua subjetividade estão diretamente associadas a uma visão artística do diretor, que em parceria com a sua equipe irá definir os caminhos narrativos que irão contribuir para a expressão dessa visão. Nesse sentido, ficamos livres para absorver cada obra com autonomia, sem que precisemos sucumbir a julgamentos quaisquer por meio de comparações. Fica aqui, portanto, a sugestão para que naveguem pelos filmes listados abaixo com toda a curiosidade e a generosidade que lhes for possível. Os filmes merecem, e vocês também!

Vaga Carne (2019)

Uma estranha voz toma posse do corpo de uma mulher. Juntos, a voz e o corpo procuram por pertencimento e por uma identidade própria enquanto questionam seus papéis dentro da sociedade. Esta sinopse dá conta de descrever a premissa deste média-metragem que é uma transcriação do espetáculo teatral da atriz e dramaturga Grace Passô. A obra é um marco para o teatro contemporâneo brasileiro, que agora em sua nova encarnação cinematográfica, codirigida por Ricardo Alves Jr. em parceria com a própria autora, ganha outras dimensões. A contribuição das artes cênicas para o cinema é imensa, e “Vaga Carne” é um exemplo claro disso. Se no teatro a presença do público diante da voz e do corpo da atriz reverbera essa materialidade de que tanto fala o texto, no filme a relação entre o que está em quadro e o que está fora dele revela muito do que os realizadores se propuseram a experimentar a partir de uma proposta em comum. Disponível gratuitamente no Spcine Play por intermédio da plataforma Looke ou para alugar no site da distribuidora Embaúba Filmes  (https://embaubafilmes.com.br/).

Em chamas (Beoning, 2018)

Para elaborar seu filme, o diretor e roteirista Chang-dong Lee reúne elementos de dois contos distintos – um do japonês Haruki Murakami, outro do americano William Faulkner -, mas que compartilham de um mesmo nome: “Barn Burning”, no inglês (numa tradução livre para o português, “Queimar celeiros”). Segundo Lee, em entrevista para a The Hollywood Reporter, mesclar as duas histórias foi importante para que ele pudesse discutir as ambiguidades do mundo em que vivemos e entender como não parece haver respostas para os questionamentos que nós temos hoje. “Em chamas” é um filme enigmático e hipnotizante sobre um homem que reencontra uma antiga amiga de infância e se descobre obcecado pelos mistérios que a envolvem, sobretudo pela presença ameaçadora de um terceiro personagem associado a ela. Disponível no Petra Belas Artes – À La Carte.

O jardim secreto (The secret garden, 1993)

O filme dirigido pela cineasta polonesa Agnieszka Holland talvez seja a versão mais famosa do clássico romance inglês escrito por Frances Hodgson Burnett e publicado entre 1910 e 1911. Morando na Índia, os pais da jovem Mary Lennox morrem e ela acaba sendo enviada de volta para a Inglaterra para viver sob os cuidados do tio ausente. A rotina tediosa de Mary é transformada após descobrir um antigo e secreto jardim abandonado, que logo se transforma em um lugar mágico. Uma fábula que ajudou a construir o imaginário das crianças nascidas nos anos 1980 e 1990 e que permanece divertida e encantadora até hoje. Recomendo relembrar essa delícia de filme e assistir junto com toda a família! Disponível no Netflix.

Maré, nossa história de amor (2007)

O filme é uma adaptação livre de “Romeu e Julieta” de William Shakespeare na forma de um musical passado numa favela do Rio de Janeiro. Lucia Murat é uma das cineastas mais importantes do cinema brasileiro, produzindo desde a década de 1980, e pelo menos desde 1997 sem grandes hiatos ou interrupções. Neste longa-metragem, Lucia mescla atores profissionais, amadores e estreantes para contar uma das tragédias mais conhecidas da humanidade. O elenco coadjuvante é composto por Babu Santana, Marisa Orth, Elisa Lucinda, Flávio Bauraqui, entre outros, e os protagonistas são interpretados por Cristina Lago e Vinícius D’Black. Dança e música conduzem toda a encenação. A diretora arrisca em várias frentes, desde o trabalho com os atores e as coreografias até a reinterpretação de elementos clássicos do texto original, como é o caso do Coro sendo composto por rappers. Certamente um passo bastante ousado em sua carreira. Disponível gratuitamente no Spcine Play por intermédio da plataforma Looke.

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