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Trilhas sonoras no Cinema

Por Leandro Luz

A música e o som, de modo geral, estão presentes nas sessões de cinema desde os seus primórdios, muito antes do dito “cinema falado” ser inaugurado comercialmente com a estreia de “O cantor de jazz”, dirigido por Alan Crosland em 1927. Já no final do século XIX era comum a utilização de música mecânica por meio de fonógrafos, pianolas elétricas e toca-discos no acompanhamento das exibições. Sem contar, claro, a execução de música ao vivo por pequenos grupos de instrumentistas (quartetos, sextetos) ou mesmo orquestras inteiras (no caso de salas de cinema mais luxuosas ou ocasiões especiais).

Além disso, os chamados “filmes cantantes“, quando o cantor em pessoa ficava atrás da tela do cinema, dublando a música “vista” pelo espectador, também deram as caras muito cedo – sem os chiados ou imperfeições dos discos, o espectador na plateia apreciava a limpidez e a verossimilhança, resultando em aplausos aos artistas no palco. Outro truque sonoro dessa época era o “fonógrafo humano“, basicamente um contrarregra que ficava responsável por gerar sons dos mais variados enquanto os filmes eram apreciados pelo público.

“O fato é que o cinema mudo nunca foi mudo”, como bem aponta José Inácio de Melo Souza em seu texto “Os primórdios do cinema no Brasil“, publicado no primeiro volume da coleção Nova História do Cinema Brasileiro, organizada por Fernão Pessoa Ramos e Sheila Schvarzman (Edições Sesc São Paulo, 2018). Nesse sentido, propomos uma imersão em cinco filmes cujas trilhas sonoras tiveram uma contribuição valiosa para os seus respectivos legados históricos.

Psicose (Psycho, 1960)

O clássico de Alfred Hitchcock talvez possua um dos momentos musicais mais marcantes do cinema: os angustiantes e berrantes violinos presentes na famosa cena do chuveiro. Esta construção sonora é fruto da mente brilhante do compositor Bernard Herrmann, parceiro de Hitchcock em vários outros trabalhos e também de filmes como “Cidadão Kane” (Orson Welles, 1941) e “Taxi Driver” (Martin Scorsese, 1976). “Psicose” dispensa maiores apresentações ou sinopses, mas cabe dizer, para quem ainda não assistiu, que irá encontrar aqui um mergulho nas engrenagens do terror psicológico e uma reflexão sobre a própria construção do suspense no cinema. O tema principal também é tocado na abertura do filme, cujos créditos iniciais foram criados pelo sempre inventivo designer Saul Bass. Disponível no Netflix e no Telecine Play.

8½ (1963)

Nino Rota é um monumento. Listar neste texto as suas grandes composições para o cinema seria uma tarefa árdua justamente pelo excesso de obras-primas em sua carreira. Basta dizer que ele trabalhou com Fellini, Zeffirelli, Monicelli, Visconti, Coppola, dentre muitos outros cineastas, para que se compreenda a sua expressividade enquanto artista e a sua importância na história do cinema. O interessante na trilha sonora de 8½, mais especificamente, é como Rota articula composições próprias com grandes clássicos de Wagner, Chopin e Tchaikovsky. Um trabalho, portanto, não apenas de criação, mas de amálgama sonoro entre universos distintos que se relacionam e por vezes provocam faíscas. Este é o oitavo longa-metragem dirigido por Federico Fellini, cujo protagonista é um diretor de cinema que se vê diante de uma crise criativa e, por conta disso, mergulha em suas próprias memórias. Disponível no Telecine Play.

2001: uma odisseia no espaço (2001: a space odyssey, 1968)

Ao contrário dos outros filmes indicados neste recorte, a obra-prima de Stanley Kubrick sobre a humanidade e a sua busca por descobrir as próprias origens não possui composições inéditas criadas exclusivamente para ela. No final das contas, o diretor dispensou a trilha sonora composta por Alex North (ambos já haviam sido parceiros em “Spartacus”, de 1960) e recorreu à música clássica para evocar as sensações e os climas precisos para a construção de cada cena. Ao mesclar composições clássicas do austríaco Johann Strauss com o trabalho contemporâneo do romeno György Ligeti, entre outras peças e autores, “2001” é lembrado até hoje pelo uso imaginativo do som e da música. Por meio da incorporação de músicas como “Danúbio Azul” e “Assim falou Zaratustra”, Kubrick conseguiu algo se não inédito, pelo menos bastante raro: manipular obras já tão famosas e cultuadas, transformando-as e atribuindo a elas significados ainda maiores e mais complexos diante do mundo. Disponível no Telecine Play.

S.Bernardo (1974)

Baseado no romance homônimo de Graciliano Ramos, o filme revela a história de Paulo Honório, um homem simples que se torna um rico fazendeiro. Este é o terceiro longa-metragem de ficção do diretor e roteirista carioca, filho de imigrantes judeus poloneses, Leon Hirszman. Apesar dos problemas com a censura, provavelmente pela sua oposição evidente ao capitalismo, o filme, após ter ficado por meses retido, foi aclamado pela crítica em seu lançamento, tendo vencido nas categorias de melhor fotografia para Lauro Escorel e melhor ator para Othon Bastos, que dá vida ao protagonista, no Festival de Gramado de 1974. E é justamente na presença do corpo e da voz desse personagem que a trilha sonora composta por Caetano Veloso entra em cena. Sem utilizar frases ou sequer palavras concretas, Caetano traduz a solidão de Honório com uma música minimalista, utilizando o seu canto para entoar melodias melancólicas, num diálogo direto com a música tradicionalmente feita no Nordeste. Apesar de uma presença discreta, a música, e consequentemente os seus silêncios, contribuem muito para que o espectador se infiltre no universo sensorial proposto pelo diretor. Disponível gratuitamente no Spcine Play por intermédio da plataforma Looke.

Sob a pele (2013)

Mica Levi é uma compositora inglesa e a trilha sonora desta obra foi a sua primeira incursão no cinema. O filme de Jonathan Glazer é uma espécie de ficção científica sobre uma misteriosa mulher, interpretada pela Scarlett Johansson, que perambula pela noite da Escócia e se ocupa em seduzir os homens que cruzam o seu caminho. Boa parte do suspense e da tentativa do filme em ser também uma reflexão filosófica sobre a existência (sobre)humana são o resultado imediato da interseção dos elementos narrativos diversos com as peças musicais compostas pela artista. Levi segue trabalhando no cinema e também assinou as trilhas de “Jackie” (Pablo Larraín, 2016), sobre o luto de Jacqueline Kennedy após o assassinato de seu marido, o presidente dos Estado Unidos John F. Kennedy, e de “Marjorie Prime” (Michael Almereyda, 2017), sobre um serviço que permite aos seus clientes a recriação holográfica de um ente querido já falecido. Com um estilo bastante peculiar, ela se permite, tal qual os grandes compositores para obras cinematográficas da história, conservar a sua voz autoral, ao mesmo tempo em que serve aos propósitos narrativos, ou ao menos sensoriais, dos filmes em que trabalha. Disponível no Prime Video.

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