
III Congresso Internacional de Estudos Afrodiaspóricos promove reflexão sobre arte, pensamento e resistência negra no Sesc RJ
Com ato de abertura do escritor e compositor Nei Lopes, evento celebra saberes afro-diaspóricos e descolonização do conhecimento.
O Sesc RJ realiza, nos dias 28 e 29 de maio de 2025, a terceira edição do Congresso Internacional de Estudos Afrodiaspóricos, reunindo artistas, pesquisadores e intelectuais para discutir os impactos históricos, culturais e políticos da diáspora africana. O encontro acontecerá no Auditório da Sede da Fecomércio RJ, no Rio de Janeiro, com acesso gratuito e recursos de acessibilidade como tradução simultânea para o inglês, libras e audiodescrição.
O evento parte da compreensão da afrodiáspora como um fenômeno sociocultural, político e histórico marcado pela imigração forçada ocorrida entre os séculos XVI e XIX, consequência de processos violentos cujas heranças ainda reverberam nos países colonizados. No entanto, mais do que revisitar narrativas de dor e trauma, o Congresso propõe refletir sobre as expressões artísticas e o pensamento afrodiaspórico que emergem das trocas, adaptações e resistências culturais. Ao longo da programação, temas como decolonialidade, educação, feminismos, memória e ancestralidade na literatura serão abordados em mesas com convidados. A agenda inclui ainda uma apresentação cultural, debates e uma visita mediada.
A abertura será marcada pela participação do escritor e compositor Nei Lopes, que refletirá sobre o papel da cultura e da educação na conscientização crítica dos povos afrodescendentes na América Latina. Além disso, haverá a participação artística da orquestra Alabê FunFun.
A programação contempla ainda nomes como Helena Teodoro, Mel Adún, Miriam Alves, Denise Carrascosa, Adeline Rapon, Morena Mariah, Rubia Luiza, Heleine Fernandes, Vovó Cici de Oxalá e Yasmin Santos, que estarão divididas em três mesas temáticas: “Educação como (re)existência: descolonização do pensamento”, “Feminismos no campo da arte e da comunicação” e “Memória e ancestralidade na literatura”.
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O congresso é conduzido pelo mestre de cerimônias Ricardo Jaheem. A mesa de encerramento, “Memória e ancestralidade na literatura”, reunirá autoras e lideranças que refletem sobre a oralidade e a escrita como formas de resistência e preservação cultural.
Além das discussões, o público poderá participar da visita mediada à exposição Fabulações Matriciais, realizada pelo educativo do Centro Cultural Arte Sesc. A mostra apresenta obras que dialogam com as matrizes culturais afro-brasileiras em suportes como a escultura em madeira e a xilogravura.
Como desdobramento do evento, será lançada uma publicação impressa e digital com textos inéditos das/os participantes, ampliando o acesso ao pensamento afrodiaspórico contemporâneo.
O congresso reafirma o compromisso do Sesc RJ com sua Política Cultural e com o Marco Referencial de Arte Educação, promovendo ações que valorizam as diversidades identitárias e contribuem para a formação crítica do público a partir de uma perspectiva decolonial e plural.
PROGRAMAÇÃO:
28/05 – Quarta-feira
9h – Credenciamento e café boas-vindas
10h – Ato de abertura: América Latina e Afrodiáspora
Neste ato de abertura, Nei Lopes convida a público a pensar o processo de conscientização crítica da população afro diaspórica dos territórios latino-americanos por meio da educação, cultura e ancestralidade.
14h – Mesa: Educação como (re)existência Descolonização do pensamento
Com Mel Adun, Helena Teodoro e Andréa Hygino. Mediação: Yasmin Santos.
De um modo geral, a produção de conhecimento tem em sua base o pensamento eurocêntrico, excluindo, na maioria das vezes, aquilo que é produzido fora desse eixo. Esse processo, que pode ser entendido como um apagamento de outros saberes, segue sendo empregado até os dias de hoje. Entretanto, movimentos contrários a essa forma de ensino têm ganhado cada vez mais espaço. Para conversar com o público sobre novas perspectivas para a educação, convidamos artistas e professores que trabalham pela ampliação dos horizontes escolares.
29/05 – Quinta-feira
9h – Credenciamento e café boas-vindas
10h – Feminismos no campo da arte e da comunicação
Com Adeline Rapon, Denise Carrascosa e Morena Mariah. Medicação: Profª Ana Paula Ribeiro
O desenvolvimento tecnológico e, por consequência, da tecnologia da informação e comunicação (TICs), causaram impactos na forma como consumimos e produzimos a informação. Neste cenário, o debate sobre a presença e representatividade feminina em diferentes espaços ganham novas plataformas de difusão. Mas, será que estamos utilizando toda a potencialidade que essas ferramentas nos apresentam? Nesta mesa, convidamos artistas e pesquisadoras para uma conversa sobre o discurso feminista na atualidade no campo da arte e comunicação.
14h – Visita mediada – Fabulações Matriciais (Espaço Cultural Arte Sesc)
Visita realizada pelo educativo do Centro Cultural Arte Sesc na exposição Fabulações Matriciais, mostra que reúne esculturas em madeira e xilogravuras que dialogam com a tradição e o contemporâneo.
15h – Memória e ancestralidade na literatura
Com Heleine Fernandes, Vovó Cici de Oxalá e Miriam Alves. Mediação: Rubia Luiza.
Seja individual ou coletiva, a memória é o elemento fundamental para a construção de identidades e para o desenvolvimento do sentimento de pertencimento. As formas de partilhar a memória podem ser múltiplas, mas a oralidade e a literatura podem ser consideradas instrumentos fundamentais para a difusão e a preservação da memória, sendo utilizadas por diferentes grupos sociais, dentre eles os povos originários e a população negra em diáspora. Em um mundo onde o número de leitores diminuí a cada ano, escrever a memória torna-se um ato de resistência. Nesta conversa, iremos debater como a literatura ainda é um campo possível de criação.
CONVIDADAS/OS:
Adeline Rapon
Adeline Rapon é uma fotógrafa franco-martinicana nascida em Paris em 1990. Sua carreira artística é autodidata, desenvolveu competências diversificadas em desenho, pintura, escultura, joalharia, cenografia e fotografia, que alimentou através das suas leituras e visitas a exposições. Durante a pandemia de 2020, Adeline produziu uma série de autorretratos espelhados com representações de mulheres das Índias Ocidentais, chamada Fanm Fò. Este trabalho, exposto nos Rencontres Photographiques du 10e em 2021, fez com que ela decidisse seguir uma carreira artística focada em suas questões identitárias.
Andréa Hygino
Andréa Hygino (Rio de Janeiro, RJ, 1992) atua como artista visual, arte-educadora e professora. É Bacharela em Artes Visuais (UERJ) e Mestra em Linguagens Visuais (PPGAV-EBA-UFRJ). Foi professora substituta na Escola de Belas Artes da UFRJ e no Instituto de Artes da UERJ.
Andréa Hygino se debruça sobre o ambiente escolar, os processos de aprendizado, adestramentos, disciplina, repetição e encontra na desobediência de estudante o lugar necessário de contestação e criação. Nos últimos anos integrou exposições em espaços nacionais e internacionais de referência, como o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, Galeria Antônio Sibassoly (Anápolis), Galeria Nara Roesler (Nova Iorque,EUA), Galeria Belmacz (Londres, Reino Unido), Wits Art Museum (Joanesburgo,África do Sul) e Kunstverein Bielefeld (Alemanha) ; Foi vencedora do 3º Prêmio SeLecT de Arte e Educação (categoria Camisa Educação) e do Prêmio FOCO ARTRio 2022. Participou de residência artística na Bag Factory Artists’ Studios em Joanesburgo, África do Sul e no JA.CA – Centro de Arte e Tecnologia (Nova Lima – MG). A artista integra a equipe curatorial da 14º Bienal do Mercosul como curadora educativa.
Ana Paula Ribeiro
Antropóloga, Professora Adjunta FEBF – Pedagogia, Departamento de Formação de Professores/UERJ, e do PPGHA/UERJ. Bolsista do PROCIÊNCIA/UERJ, é coordenadora do Programa de Extensão Museu Afrodigital Rio de Janeiro (UERJ), também fazendo parte do seu conselho curador e de redação. Tem experiência nas áreas de Antropologia (do Cinema, Visual, Urbana e das Populações Afro-brasileiras) e atua também com curadoria e educativo de cinema e artes visuais. Pesquisa e orienta os seguintes temas: Imagens e Intervenções Artísticas nas/das Cidades, Cinema e Cidade, Cinema Negro, Museus Negros, Museus Afro-digitais e Cultura Visual. Desde 2024 dirige o Centro de Tecnologia Educacional da UERJ, que consiste na TV Uerj, na Rádio Uerj e no Núcleo de Memória Audiovisual – o NuMA.
Denise Carrascosa
Denise Carrascosa França é doutora em crítica literária e cultural, tradutora literária, advogada e professora de literatura na Universidade Federal da Bahia, na graduação do Instituto de Letras e no Programa de Pós-graduação em Literatura e Cultura. Lidera o projeto de pesquisa Traduzindo no Atlântico Negro e coordena, há 12 anos, o projeto de extensão Corpos Indóceis e Mentes Livres: trabalho de produção de oficinas de escrita literária no Conjunto Penal Feminino do Complexo Penitenciário Lemos Brito, na Bahia, onde construiu, junto com mulheres presas sentenciadas, a Biblioteca Mentes Livres (2013), possibilitando remição de pena pela leitura.
Helena Teodoro
Helena Theodoro é escritora, filósofa, recebeu Medalha Tiradentes (2024) e Medalha Chiquinha Gonzaga (2024), professora visitante do IFCS/ UFRJ e Presidente do conselho deliberativo do Fundo Elas. Autora da trilogia: “As Matriarcas”, com as peças: “Mãe de Santo”, “Mãe Baiana” e “Mãe Preta”. É autora do livro “Mito e Espiritualidade: Mulheres Negras” (1996), “Os Ibejis E O Carnaval” (2009), “Iansã: rainha dos ventos e das tempestades” (2010) e “Martinho da Vila: reflexos no espelho” (2018).
Heleine Fernandes
Heleine Fernandes (Rio de Janeiro, 1985) é poeta, ensaísta, performer e pesquisadora de Poesia Contemporânea Negra-Brasileira. É professora de Literatura Brasileira na UFRJ e doutora pela mesma instituição. Faz parte do NEA (Núcleo de expressões artísticas) Feminismos Plurais do Sesc Niterói desde 2023, como mentora e professora de escrita. Finalista do prêmio Jabuti, é autora de A poesia negrafeminina de Conceição Evaristo, Lívia Natália e Tatiana Nascimento, Nascente e Voltar para casa. Realizou performances comissionadas pelo Museu Bispo do Rosário, MAM-RIO e Galpão Bela Maré. Participou do circuito de autores do Arte da Palavra do Sesc em 2024 e fez parte da programação de festas literárias como a FLIP, a FLUP, a FLIC-BF, a FLIM e a FLICAJU. Foi selecionada pelo edital Viva o Talento, da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, para realizar a oficina Vozes da Poesia Negra Feminina. Tem poemas publicados em antologias, como Cult#1, Ato poético: poemas para a democracia, em Carolinas: a nova geração de escritoras negras brasileiras e em Versão Brasileira: a voz da mulher. Tem ensaios publicados em Escrevivências: identidade, gênero e violência na obra de Conceição Evaristo e em Falemos de poesia.
Miriam Alves
Miriam Alves (1952), Bacharel em Serviço Social, palestrante e declamadora performática, escritora de literatura negra brasileira. Integrante do Quilombhoje Literatura (1980-1989). 42 anos carreira literária, 57 livros publicados, sendo 12 livros individuais e 45 participações em antologias nacionais e internacionais, nos gêneros literários: conto, poemas, romances, ensaios e dramaturgia. Organizou duas antologias internacionais. Palestrou na Áustria e no EUA. Ministrou curso de literatura negra brasileira na Universidade do Novo México e na Middlebury College. Em 2022, foi homenageada da 5ª edição da Bienal Internacional do Livro de Brasília. Em 2024 recebeu o troféu Unbuntu, na categoria potência literária.
Mel Adún
Mel Adún é doutoranda na Universidade de Nova York (NYU) no Departamento de Espanhol e Português. Atualmente, além de editar na Editora Ogum’s, faz parte dos coletivos Ogum’s Toques Negros e Corpos Indóceis e Mentes Livres na Penitenciária Feminina de Salvador, Bahia. No campo da crítica, Mel Adún cursou mestrado em no Instituto de Letras da Bahia em Literatura e Cultura, pela Universidade Federal da Bahia. A partir da Literatura Negra organiza a Coletânea Poética Ogum’s Toques Negros (Ed.Ogum’s, 2014) juntamente com os poetas Guellwaar Adún e Alex Ratts; edita o livro Bará na trilha do vento (Ed. Ogum’s, 2015) da escritora Miriam Alves e a coletânea feminina Quilombellas Amefricanas I e II (Ed. Ogum’s, 2021), na qual também publica enquanto poeta, e as organiza juntamente com a poeta Claudia Santos e a crítica literária Ana Rita Santiago.
Morena Mariah
Morena Mariah é mãe da Ayó, pesquisadora, escritora, palestrante em 2 TEDx e criadora de conteúdo digital. Colunista com textos publicados no Jornal O Globo e na IstoÉ Mulher, onde utiliza a escrita como uma ferramenta de transformação. É graduada em Estudos de Mídia pela UFF e possui extensão em Negócios Sociais e de Impacto pela ESPM. Sua trajetória está enraizada no impacto social, com mais de uma década de experiência em projetos e organizações que promovem equidade racial, direitos humanos e cultura. Em 2018, fundou o Instituto Afrofuturo, a primeira instituição de educação afrofuturista do Brasil. Desde 2019, atua no setor público, dedicando-se à formulação de políticas públicas nas áreas de cultura, igualdade racial e direitos de crianças e adolescentes.
Nei Lopes
Nei Lopes, afrodescendente nascido no subúrbio carioca em 1942, é escritor e compositor de música popular, além de bacharel em direito e ciências sociais. Desde 1981, já publicou mais de 40 livros de diversos gêneros, entre romances, contos, ensaios, poesia e dicionários. Sua obra como compositor, iniciada em 1972, tem mais de 350 títulos gravados por grandes nomes da música brasileira.
Rubia Luiza
Rubia Luiza é bibliotecária formada em Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação pela UFRJ e mestre em Ciência da Informação pelo IBICT/UFRJ, com pesquisa focada em mediação cultural da informação étnico-racial em bibliotecas públicas. Desde 2015, atua como bibliotecária responsável na Biblioteca da Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV), onde promove a integração entre arte, cultura e informação. Além de sua atuação técnica, dedica-se à mediação cultural da informação, no qual cria e implementa ações pedagógicas que ampliam o acesso ao conhecimento e fortalecem a difusão cultural em espaços públicos.
Vovó Cici de Oxalá
Ìyá Àgbà Cici nasceu em 1939 e foi iniciada no culto aos Orixás em 1972. É anciã do Terreiro Ilê Axé Opô Aganjú, exímia contadora de histórias conhecida também como Vovó Cici de Oxalá, e pesquisadora da Fundação Pierre Verger em Salvador. Em 2022 recebeu o título de Cidadã de Salvador e em 2023 o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia. Vovó Cici é coautora do livro “Cozinhando histórias: receitas, histórias e mitos de pratos afro-brasileiros” (Fundação Pierre Verger, 2015) e autora do livro “Oxalá, o grande pai que olha por todos” (Arole Cultural, 2025).
Ricardo Jaheem
Ricardo Jaheem é escritor, contador de histórias e educador. Sua trajetória literária é profundamente marcada pela oralidade herdada de sua avó, mãe e tia, mulheres que lhe transmitiram a força da palavra como legado ancestral. Neto de uma avó analfabeta, Ricardo transformou a tradição oral em literatura viva, dedicada a resgatar afetos, identidades e memórias coletivas. Com atuação em favelas, escolas, aldeias e quilombos, une tradição e inovação, levando suas histórias das ruas para as páginas dos livros. Reconhecido por sua contribuição à educação pública, recebeu prêmios do Conselho Municipal de Educação do Rio de Janeiro e do COMDEDINE por sua atuação inovadora na alfabetização e na promoção da diversidade étnico-racial.
Yasmin Santos
Yasmin Santos nasceu no Rio de Janeiro em 1998. Jornalista e ensaísta, é autora de “Conceição Evaristo: Voz insubmissa” (Rosa dos Tempos, 2024), ensaio biográfico sobre uma das escritoras mais importantes da literatura brasileira. Colaborou com diversos veículos, entre os quais as revistas Piauí, Serrote, Quatro Cinco Um e os jornais Folha de S.Paulo e Nexo. Em 2021, a Câmara Municipal de Salvador lhe concedeu o Prêmio Maria Felipa por sua atuação profissional em prol dos direitos humanos. É editora da Companhia das Letras.
SERVIÇO:
III Congresso Internacional de Estudos Afrodiaspóricos Sesc RJ
Inscrições aqui
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Auditório da Sede da Fecomércio RJ — Rua Marquês de Abrantes, 99 – Flamengo, RJ
28 e 29 de maio de 2025
A partir das 9h
Entrada gratuita – sujeita à lotação
Com tradução simultânea (inglês), LIBRAS e audiodescrição
Publicação final impressa e digital com textos das/os convidadas/os
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