Infância Sonora – Sobre os caminhos ao país dos sonhos

Anderson Lins, Analista Técnico da Gerência de Cultura, fala sobre infância sonora e os caminhos para o pais dos sonhos.

Hermeto foi  na cozinha pra pegar o instrumental: do facão à colherinha tudo é coisa musical”. Chá de Panela de Guinga e Aldir Blanc.

A Criança tem uma espécie de lente da Brincadeira de onde vê o mundo acontecer e ganhar os caminhos para interagir. Percebam também os seus elementos: animais em miniaturas, cidades, brinquedos que fazem mexer o corpo, numa fluente experimentação e ampliação de repertórios e de palavras.

Pedrinhas, galhos, sementes, folhas secas, esqueleto de insetos: tudo ganha sentido.

_Na minha imaginação, as ovelhas voam

Tem aquele instrumento que traz o som do mar, o som da chuva, o som do sapo: tudo ganha sentido.

Evocações que se somam as experiências vividas do corpo no mundo, aquela coisa de ver além, ver não só com os olhos mais com todos os sentidos. Mesmo porque tem gente que não enxerga, não ouve e precisa de auxílio para movimentar-se para encontrar com o outro. Para a construção dos vínculos profundos, tocar, identificar e unir-se a memória ancestral, porque o que se quer é viver uma vida cheia de sentido dentro da perspectiva da diversidade, a pluralidade das formas de vida, de existência e de hábitos.

Humanizar as coisas do nosso cotidiano é uma forma de considerar e refletir o conjunto e o organismo que é o planeta: a Terra e a humanidade! Como ensina o Krenak: “Eu não percebo onde tem alguma coisa que não seja natureza. Tudo é natureza. O cosmos é natureza. Tudo em que eu consigo pensar é natureza.” As crianças pensam e agem no mundo deste jeito. Temos que ajudar as crianças nesse salvamento, para os adultos é uma luta, que nos leva as escolhas e decisões sobre o lugar que queremos viver.

Na canção Samba Dos Animais de Jorge Mautner:

O homem antigamente falava
Com quem? com quem? com quem?
Com a cobra, o jabuti e o leão
Olha o macaco na selva
Aonde? aonde? ali no coqueiro!
Mas não é macaco baby, é meu irmão!
Porém durou pouquíssimo tempo
Essa incrível curtição
Pois o homem, rei do planeta
Logo fez sua careta
E começou a sua civilização
Agora já é tarde
Ninguém nunca volta jamais
O jeito é tomar um foguete
é comer desse banquete
Para obter a paz – aquela paz
Que a gente tinha quando falava com os animais
Quém, quém, quém
Miau, miau
Au, au, au, au
Bom dia dona Cabrita, como é que vai?

A música pode ser apresentada às crianças com toda a riqueza que o som é pensado como um laboratório criativo: assovios, risos, efeitos sonoros, a polifonia de uma paisagem sonora.

Muitos artistas tem trabalhos concebidos de forma a inserirem a música nas peças: Podcast, espetáculo de Contação de História, livros, dentre outras, como incentivo para a divulgação de músicas que pouco circulam, como a música tradicional, música de concerto, músicas instrumentais.  É bom pensar nesta perspectiva e introduzir uma pesquisa para que a música seja apreciada pela criança, brincando. Por isso, iniciamos Projeto Infância Sonora que se realiza a partir de uma série de Playlist e Podcast para auxiliarem nesta educação, com conteúdo pensado para incentivar o convívio da criança com o universo da música. O benefício de cantar é tão grande que só se descobre quando se canta, Alguém Cantando com Caetano Veloso:

Alguém cantando longe daqui
Alguém cantando longe, longe
Alguém cantando muito
Alguém cantando bem
Alguém cantando é bom de se ouvir

Alguém cantando alguma canção
A voz de alguém nessa imensidão
A voz de alguém que canta
A voz de um certo alguém
Que canta como que pra ninguém

A voz de alguém
Quando vem do coração
De quem mantém
Toda a pureza
Da natureza
Onde não há pecado nem perdão

Todas as crianças merecem canções. É bonito quando a gente ouve uma música que nos toca fundo, no coração. E, sabemos que vamos carregar conosco para a vida como um presente e uma alegria. Uma Alegria e uma Felicidade Verdadeira.

E quando a gente se confunde com a natureza? Porque é mesmo assim, somos a natureza, embora sabemos que temos uma sociedade formada pelos Homens Mercadoria. Mas, para superar a pessoa bruta e assumir a condição de diálogo com as coisas do mundo, em equilíbrio sendo uma delas, como ensinou o mestre Manoel de Barros e cantado por Luiz Melodia em Retrato De Um Artista Quando Coisa:

Borboletas
Já trocam as árvores por mim
Insetos me desempenham
Já posso amar as moscas
Como a mim mesmo
Os silêncios me praticam

De tarde
Um dom de latas velhas
Se atraca em meu olho
Mas eu tenho o predomínio
Por lírios

Plantas desejam a minha boca
Pra crescer por cima
Sou livre
Para o desfrute das aves
Dou meiguice aos urubus
Sapos desejam ser-me
Quero cristianizar as águas
Já enxergo o cheiro do sol

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