
Literatura como ferramenta de prevenção à violência sexual infantojuvenil
Livros podem ajudar a romper o silêncio e a prevenir situações de abuso de crianças e adolescentes.
Por Isadora Escalante
Analista e Bibliotecária do Sesc Nova Iguaçu
O dia 18 de maio é o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. A data foi criada pela Lei nº 9.970/2000, conhecida como Lei Araceli, em homenagem a Araceli Crespo, uma menina de 8 anos que, em 1973, foi sequestrada, violentada e assassinada em Belo Horizonte (MG). O crime, marcado por grande crueldade, segue sem punição: os acusados foram absolvidos. Desde então, esse dia se tornou um símbolo da luta contra uma das formas mais graves de violência sofrida por crianças e adolescentes: a violência sexual.
Os dados mostram que o problema ainda é muito grave. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2023, 61,4% dos casos de estupro registrados no país têm como vítimas crianças menores de 13 anos. A cada hora, quatro meninas nessa faixa etária são estupradas no Brasil, e em 95% dos casos os agressores são pessoas do convívio familiar ou próximas da vítima — o que dificulta ainda mais a denúncia e o rompimento do ciclo de violência.
Diante dessa realidade, é fundamental que toda a sociedade — incluindo famílias, escolas, bibliotecas, órgãos públicos e organizações sociais — se mobilize para enfrentar o problema com seriedade. A prevenção e o enfrentamento dessa violência exigem ações contínuas de informação, acolhimento, escuta e diálogo. Mais do que uma simples data, 18 de maio é um chamado à responsabilidade coletiva.
Nessa direção, as bibliotecas do Sesc RJ vêm atuando como espaços de promoção de direitos e proteção da infância e adolescência, por meio de ações de leitura, mediação e educação para a cidadania. Compreendendo o poder da literatura na formação ética, emocional e social desse público, sobretudo em contextos de vulnerabilidade e violência, a curadoria literária das bibliotecas é pensada como forte aliada na prevenção, combate e acolhimento das crianças e adolescentes.
A partir da literatura, bibliotecários e assistentes desenvolvem atividades que incentivam o diálogo, fortalecem a autoestima de crianças e adolescentes e ampliam o acesso à informação qualificada sobre temas como o respeito ao corpo, os limites pessoais e a importância de buscar ajuda em situações de risco. As histórias abordam esses temas com delicadeza e sensibilidade, permitindo que crianças e adolescentes se sintam acolhidos e seguros para falar sobre o que vivem e sentem. Assim, os livros podem ajudar a romper o silêncio e a prevenir situações de abuso.
Além disso, essas leituras contribuem para que adultos — como pais, professores e cuidadores — reconheçam sinais de possíveis violências e saibam como agir. Boas histórias criam um ambiente de confiança, no qual é possível refletir, aprender e buscar apoio. Dessa forma, a curadoria de obras sensíveis ao tema é uma ferramenta estratégica para fomentar o diálogo, promover a escuta e fortalecer a rede de proteção às infâncias.
Em razão disso, selecionar obras adequadas ao tema é uma ação estratégica e necessária. Bibliotecas de qualquer tipologia podem — e devem — ser espaços onde o cuidado, a proteção e o conhecimento caminham juntos. Confira algumas indicações de obras que tratam do assunto de forma responsável, apropriada e acessível para diferentes idades:
1. Não me toca, seu boboca! – Andrea Viviana Taubman
(Idade recomendada: a partir de 5 anos)
Uma narrativa delicada e acessível que ensina as crianças sobre o respeito ao próprio corpo, incentivando o autocuidado e a busca por ajuda quando necessário.
Disponível nas Unidades: Sesc Duque de Caxias, Sesc Madureira, Sesc Niterói, Sesc Nova Friburgo – Biblioteca Flávia Penin Garcia Rocha, Sesc Nova Iguaçu e Sesc Três Rios.
2. O segredo de Tartanina – Blandina Franco e José Carlos Lollo
(Idade recomendada: 6 a 10 anos)
Com linguagem lúdica, mostra como segredos que machucam precisam ser compartilhados com adultos de confiança, ajudando a criança a reconhecer situações de risco.
3. Pipo e Fifi – Caroline Arcari
(Idade recomendada: 4 a 10 anos)
Livro que ensina, de forma ilustrada, a diferença entre toques bons e ruins e estimula o diálogo com adultos responsáveis, usando linguagem apropriada e acolhedora.
Disponível nas Unidades: BiblioSesc 01, BiblioSesc 02, BiblioSesc 03, BiblioSesc 04 e Sesc Madureira.
4. Segredo segredíssimo – Odívia Barros
(Idade recomendada: a partir de 6 anos)
Conta a história de Adriana, uma menina triste que tem um segredo e muda sua vida para melhor ao seguir o conselho de sua amiga Alice.
5. Meu corpo, meu corpinho – Roseli Mendonça
(Idade recomendada: 4 a 6 anos)
Aborda de forma lúdica assuntos como integridade física, privacidade e proteção. Também ajuda as crianças a entenderem conceitos fundamentais para evitar abusos sexuais, como partes íntimas, o poder de dizer “não” e a importância do diálogo aberto com um adulto de confiança.
Disponível nas Unidades: Arte Sesc, BiblioSesc 01, BiblioSesc 02, BiblioSesc 03, BiblioSesc 04, Sesc Niterói e Sesc Nova Friburgo – Biblioteca Flávia Penin Garcia Rocha.
6. Leila – Tino Freitas
(Idade recomendada: a partir de 8 anos)
Conta a história de Leila, um filhote de baleia jubarte que vive sendo assediada por seu vizinho, o Barão. Até que encontra sua voz para se libertar do constrangimento e do medo, junto da sua família e amigos.
Disponível nas Unidades: BiblioSesc 01, BiblioSesc 02, BiblioSesc 03, BiblioSesc 04 e Sesc Barra Mansa.
7. O poder de me proteger – Mariana Motta
(Idade recomendada: a partir de 5 anos)
Resgata quatro histórias para crianças e um guia para adultos, estimulando o diálogo entre pais e filhos, sobre conceitos como consentimento, limites corporais, partes íntimas, toques seguros e inseguros, segredos e confiança.
8. Gogô, de onde vêm os bebês? – Caroline Arcari
(Idade recomendada: a partir de 5 anos)
Gogô, uma cegonha muito sabida, explica para as crianças conceitos fundamentais sobre a origem dos bebês, sem deixar de abordar valores importantes sobre respeito, consentimento, maturidade e prevenção da violência sexual.
9. Tuca e Juba: prevenção de violência sexual para adolescentes – Julieta Jacob
(Idade recomendada: a partir de 12 anos)
Convida as garotas e os garotos a pensarem sobre consentimento, relacionamentos, autoestima e sentimentos, utilizando toda a linguagem visual e digital da era da internet e redes sociais.
Antônio – Hugo Monteiro Ferreira
(Idade recomendada: 8 a 12 anos)
Narra a história de Antônio, um garoto de sete anos que sempre foi muito alegre, mas da noite para o dia começou a apresentar um comportamento agressivo. O livro ajuda pais a identificarem sinais de que as crianças podem estar sendo vítimas de abuso sexual, assim como estimular possíveis vítimas a se abrirem.
Disponível na Unidade: Sesc Nova Iguaçu.
Incentivar a produção, circulação e mediação de livros com abordagens responsáveis e educativas sobre o tema é fundamental. A literatura, quando tratada com cuidado e compromisso, transforma-se em uma aliada poderosa na luta contra a violência sexual, contribuindo para a construção de uma infância e adolescência mais segura, consciente e protegida.
Você pode entrar em contato com a Biblioteca Sesc mais próxima da sua residência, fazer sua reserva e conhecer mais sobre os livros disponíveis ou clicar aqui e acessar a lista na Rede de Bibliotecas Sesc RJ.
Vale lembrar que o canal para denúncias é o Disque 100 e está disponível 24 horas por dia, todos os dias da semana, podendo ser acionado por telefone (100), WhatsApp (61) 99611-0100. Além disso, o Ministério dos Direitos Humanos disponibilizou em sua página oficial o SABE – Conhecer, aprender e Proteger que traz 11 vídeos com contação de histórias que ensinam as crianças a se protegerem contra a violência sexual, incluindo versão de histórias em libras.
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