FÓRUM DE IDEIAS

 

Em 2025 o lema “No princípio, a terra” será o fundamento das reflexões, debates e conversas do Fórum de Ideias do Festival Sesc de Inverno, que acontece nos dias 19 e 20 de julho, no Centro Cultural Sesc Quitandinha em Petrópolis. Pensar a terra enquanto princípio toca, na mesma medida, tanto nas questões físico-geográficas quanto na dimensão simbólica que atravessa os sentidos do que nomeamos terra, território, comunidade, lugar.

Houve um tempo, diz-nos Nego Bispo, em que não “dizíamos ‘aquela terra é minha’ e, sim, ‘nós somos daquela terra’”. Embora imersos numa época de máxima conectividade, cuja mediação por telas alimenta a ilusão de proximidade e presença, pensar que pertencemos à terra e não que a terra nos pertence, ainda com Nego Bispo, é um caminho importante não apenas para a ecologia dos territórios, no sentido geográfico, mas também para a ecologia que permeia os aspectos do sensível que nos circundam.

As fronteiras existem, tal qual o risco da travessia. Há uma dinâmica política na qual a terra, enquanto energia vital, ainda se apresenta como dispositivo imprescindível, sobretudo à vida em sociedade.

“No princípio, a terra” se propõe a traçar linhas, rotas para as conversas, todas abertas às singularidades e caminhos de cada uma das pessoas convidadas.

Local: Café Concerto, do Centro Cultural Sesc Quitandinha
Datas: 19 e 20 de julho

 

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SÁBADO, 19 JULHO – 11H

 

Fórum de Ideias

No princípio, o corpo-território
com Itamar Vieira Junior

Terra e Território são extensões do nosso corpo, parte essencial do que realizamos nas dimensões históricas, físicas, espirituais e afetivas da vida. Nesse sentido, pensar o retorno à terra e à natureza como matriz material da nossa existência é vital para refletirmos sobre formas outras de habitarmos a condição social e histórica na qual estamos imersos.

Vencedor dos prêmios Leya, Oceanos e Jabuti, Itamar Vieira Junior nasceu em Salvador, na Bahia, em 1979. É geógrafo e doutor em estudos étnicos e africanos pela UFBA. Seu romance TORTO ARADO é um dos maiores sucessos — de público e crítica — da literatura brasileira das últimas décadas, tendo sido traduzido em mais de vinte países, com futura adaptação para o audiovisual. Pela Todavia, publicou também DORAMAR OU A ODISSEIA: HISTÓRIAS e SALVAR O FOGO.

Fórum de Ideias 1Terra, território e soberanias
com Mestre Joelson Ferreira

A palestra propõe reflexões sobre a terra, território e pertencimento. A partir da agroecologia e das lutas dos povos da floresta, das águas, do campo e das periferias urbanas, discute a construção das soberanias e autonomia dos povos.

Mestre Joelson Ferreira de Oliveira é Doutor por Notório Saber em Arquitetura e Urbanismo (UFMG), líder do Assentamento Terra Vista (BA) – referência em agroecologia, cabruca e produção de chocolate; um dos fundadores e uma das principais lideranças da Teia dos Povos, é guardião das sementes crioulas e das lutas por terra e território. Foi um integrante da direção nacional e regional do MST entre 1987 e 2006. É autor dos livros “Por Terra e Território” (2021) “As Lutas Existem pela Nossa Terra”(2022) e “Sonhando a Terra do Bem Virá” (2025).

 


 

SÁBADO, 19 JULHO – 14H

 

Fórum de Ideias 2Re.Flor.Estar
com Daiara Tukano

Ser floresta é uma ideia que passa por vários mo(vi)mentos, entre eles o de se compreender semente, aquela que vem de um fruto que por sua vez veio de uma árvore, árvore esta que está plantada e enraizada na terra.

Daiara Hori Figueroa Sampaio – Duhigô, do povo indígena Tukano, do Alto Rio Negro na Amazônia brasileira, é artista, ativista, educadora e comunicadora. Graduada em Artes Visuais e Mestre em direitos humanos pela Universidade de Brasília – UnB; pesquisa o direito à memória e à verdade dos povos indígenas. Foi coordenadora da Rádio Yandê, primeira web-rádio indígena do Brasil. Participa, desde 2020, de importantes mostras individuais e coletivas, no Brasil, na Europa e nas Américas, dentre elas: a 34a Bienal de São Paulo, o Prêmio PIPA Online 2021, Museu de Arte do Rio de Janeiro – MAR, Hayward Gallery (Inglaterra), Unesco (França), Galeria Richard Sulton (Itália e no Museu Mauritshuis (Haia – Países Baixos). É representante indígena no Conselho Nacional de Cultura (Minc), estuda a cultura, história e espiritualidade tradicional de seu povo.

Fórum de Ideias 3Aqui pode cachorro! Travessias estéticas entre humanidades e animalidades
com Camila Alves

Quais versões de mundo o trabalho dos cães guias é capaz de produzir? Como eles garantem um mundo mais interessante e articulado, com mais entidades fazendo sempre mais coisas? A vida de uma pessoa cega contaminada pelos cães guias, coloca uma questão: Quais versões de humanidade, animalização e deficiências esses animais colocam em cena? Entre fronteiras e travessias é importante que nos perguntemos: Como podemos reconciliar a brutal realidade da animalização humana com a necessidade simultânea de questionar a desvalorização dos animais e, até mesmo, reconhecer nossa própria animalidade? “No princípio, a terra” é um convite para questionarmos as concepções sobre acesso, sobre interdependência, sobre compor um mundo na parceria com outras espécies, sobre conviver com a diferença para recriar a nossa humanidade.

Camila Alves é uma mulher cega, doutora em psicologia social e especialista em acessibilidade cultural e Estudos da Deficiência. Atua como consultora, palestrante e psicóloga clínica, além de ser cofundadora do Nexo Psicoterapia, um espaço de atendimento clínico e de formação em psicologia. Sua pesquisa de Mestrado e Doutorado explora os Estudos da Deficiência em relação a Gênero e Espécies, com foco em política, subjetividade e exclusão social. Ela também é autora do livro “E se experimentássemos mais?”, fruto de sua pesquisa e referência no campo da acessibilidade cultural.

 


 

SÁBADO, 19 JULHO – 16H

 

Fórum de Ideias 4No princípio, a batida
com Kalaf Epalanga

Das canções de trabalho às que invocam a chuva, a música sempre foi território — simbólico e real. Um solo fértil onde germinam sentidos de identidade, pertença e resistência. Nesta escuta, propõe-se pensar a música como tecnologia de reconexão: com a terra e com o corpo, com o passado e com o porvir. Capaz de atravessar fronteiras e criar comunidade, a música desenha mapas invisíveis onde ainda é possível habitar.

Kalaf Epalanga é um escritor e músico nascido em Benguela, Angola e radicado em Berlim. É co-fundador da editora discográfica Enchufada e membro da banda Buraka Som Sistema (em hiato desde 2016). Escreveu crônicas para o jornal O Público, GQ Magazine (Portugal) e REDE Angola e para a revista literária brasileira Quatro Cinco Um. Foi também curador dos festivais literários African Book Festival 2021 em Berlim e Africa Writes 2023 em Londres. Publicou as coleções de crônicas ‘Estórias de Amor para Meninos de Cor’ e ‘O Angolano que Comprou Lisboa (Por Metade do Preço)’ e ‘Minha Pátria é a Língua pretuguesa’. ‘Também os Brancos Sabem Dançar’ é o seu primeiro romance.

Fórum de Ideias 5Eu, Mosquito, sou Japão!
Nástio Mosquito

“…
– Não posso ser japonês?!? Então serei o Japão.
– Como?!?
– Se eu não posso – em nenhuma circunstância, momento, ou predicamento – ser japonês, a única hipótese que me resta é ser o Japão. …”

A equação, naquilo que toca obter a nacionalidade japonesa ou cidadania japonesa, é um pouco mais complexa do que isso; mas esta frase saiu da minha boca ao falar com a delicada e furiosamente determinada Megumi Matsubara. Este africano, negro, que fazia poucos meses não queria sequer aceitar o convite para ir até Yokohama, estava agora de tal forma embriagado pelo território e suas pessoas que se via intitulado a ser – não a construção política, monarquia constitucional – Japão, mas o território, terra, e sangue derramado, e ainda por derramar, Japão.

Nástio Mosquito é um artista multidisciplinar, cujo trabalho abrange música, som, vídeo arte, performance artística, instalações e poesia. Mosquito é conhecido por sua abordagem única, desafiando convenções e questionando normas sociais estabelecidas.

 


 

DOMINGO, 20 JULHO – 11H

 

Fórum de Ideias 6Terra que não acaba
com Parteum

Quando penso em terra, para além do nome do planeta em que a gente vive, penso no que disse meu vô Chiquinho – ao explicar pro Seu Toninho meu pai, nosso caminho e o que significava o desejo do neto (eu) de estudar fora. Toninho, a gente veio parar cá, você sabe como. O que é nosso, até nosso senso de comunidade, tentam roubar. Se Fabinho quer ir lá fora estudar, tem que deixar. A escola boa e o cuidado foram pra isso, não foram? E essa conversa se deu no quintal na casa do meu avô, no Jardim Universal, na cidade de Araraquara. Terra de muita desigualdade e racismo, mas também de um dos ramos da minha árvore ancestral.

Era praxe, durante o intercâmbio, pousar em São Paulo e correr pra Araraquara pra pedir a benção dos meus avós maternos. Também penso a ideia de terra, de chão, de casa, como esse lugar em que a fonte das nossas forças vivem. Está nas pessoas da família, nas palavras, nos gestos, no apelido que nos dão, no lugar que cada uma dessas pessoas ocupa no nosso ser. É terra que não acaba. Meu vô tinha mania de andar muito, pensar na vida caminhando. Me pareço com ele, nesse sentido. E quando saio pra caminhar lembro dele, da terra dele –– Que também é minha terra, pois eu também sou de lá, mesmo sendo nascido na capital.

Fábio Luiz, também conhecido como Parteum, é um ex-skatista profissional, produtor musical e 1/3 do grupo de rap alternativo Mzuri Sana. Nos anos 90, dividiu-se entre a carreira de skatista, escapulidas para o sul da Califórnia e a paixão por games, quadrinhos e rap. Atuou como produtor musical e gerente de produto da Trama, gravadora musical de grande importância para a música brasileira produzida nos últimos vinte anos, na qual trabalhou com diversos artistas, entre eles MV Bill, Zélia Duncan, Nação Zumbi e Ed Motta. Como artista, recebeu o Prêmio Hutuz pelo seu primeiro álbum solo, Raciocínio Quebrado. Prepara para 2025 o lançamento do seu novo disco, Raciocínio Inteiro, além de um documentário homônimo do primeiro disco, comemorando 20 anos de lançamento.

Fórum de Ideias 7Cantar a Terra:
Arte, Memória e Futuro
com Kaê Guajajara

Kaê Guajajara reflete sobre como a arte, o corpo e a voz são ferramentas de pertencimento, resistência e reencantamento dos territórios. A partir da sua vivência enquanto artista indígena atravessando territórios como a favela, a aldeia, a cidade, propõe pensar a Terra não só como chão, mas como memória viva, espírito e horizonte de futuro. A palestra atravessa música, oralidade e ancestralidade, reforçando que criar é também um ato de cura coletiva.

Kaê Guajajara é cantora, compositora, atriz, autora e ativista pelos direitos indígenas e meio ambiente. O seu trabalho musical tem como base a inovação e as raízes ancestrais indígenas, matriz da música brasileira com diversas influências culturais que continuam a moldar e redefinir o cenário musical no Brasil e além. Nascida em Mirinzal no Maranhão e criada no Rio de Janeiro, Kaê é engajadora da MPO: Música Popular Originária, e expande a partir de suas composições e musicalidade, a visibilidade dos povos originários no contexto do mundo presente.

 


 

DOMINGO, 20 JULHO – 14H

 

Fórum de Ideias 8A Terra é Mãe: Ética Ancestral como Alicerce do Pertencimento
com Dr. Sidnei Barreto Nogueira

A partir da cosmologia africana e das encruzilhadas do Candomblé, esta fala propõe uma ética ancestral que reconhece a terra como mãe, memória e origem. Voltar à terra é retornar a um princípio de cuidado, de reciprocidade e de escuta. Não estamos sobre ela — somos dela. Gira-se com a terra, não contra ela. A ética ancestral nos convida a caminhar com os pés no barro e a cabeça nos ensinamentos dos mais velhos, para reconstruirmos o mundo como comunidade viva, fértil e partilhada.

Graduado em Letras pela Universidade Braz Cubas (1995), Mestre em Semiótica e Linguística Geral pela Universidade de São Paulo (2001), Doutor em Semiótica e Linguística Geral pela FFLCH – Universidade de São Paulo (2009), com estágio doutoral no CNRS- LLACAN [Langage, Langues et Cultures dAfrique], (2007). CEO e Coordenador do Instituto ILÈ ARÁ SP – Instituto Livre de Estudos Avançados em Religiões Afro-brasileiras, especialista em Consultoria e Mentoria em Letramento Racial. É colunista da coluna Diálogos da Fé da Carta Capital. Foi finalista Jabuti em 2021 com o livro “Intolerância Religiosa”.

Fórum de Ideias 9Montando a história da vida
com Castiel Vitorino

“Montando a história da vida” é também o título da obra da artista, apresentada na 35 Bienal de São Paulo, cuja pesquisa plástica procurou demonstrar uma relação espiritual e clínica entre cores, arquitetura e temporalidade. Castiel irá desenvolver uma fala sobre o aspecto ecológico de sua prática artística, mostrando conexões entre memória e liberdade, atrelando a noções de justiça social e liberdade.

Artista plástica, escritora e psicóloga clínica. Em sua prática multidisciplinar, estuda o mistério entre vida e morte, a chamada Transmutação, e as formas de se locomover entre essas zonas existenciais. É autora do livro “Quando o sol aqui não mais brilhar: a falência da negritude” (2022). Sua mais recente exposição individual aconteceu em Bruxelas, com o título de “A linguagem dos anjos”. Integrou a 35ª Bienal de São Paulo, com a obra “Montando a História da Vida” (2023). Atualmente desenvolve o projeto de longa duração “Kalunga: a origem das espécies”.

 


 

DOMINGO, 20 JULHO – 16H

 

Fórum de Ideias 10A gira dos encantados
com Luiz Antonio Simas

Para a tradição da encantaria brasileira, as encantadas e encantados não passaram pelo fenômeno da morte física. Antes disso, foram arrebatados e viraram pedra, flor, areia da praia, concha, folha, bicho, rio. Amalgamados à natureza, fundidos à terra, os seres do encante galoparam o vento para driblar a morte, afirmar a beleza do ser no mundo e mandar um recado para o nosso tempo.
Luiz Antonio Simas é carioca, filho de mãe pernambucana e pai catarinense. É professor, historiador, escritor, educador e compositor, com trinta anos de experiência em sala de aula. É bacharel, licenciado e mestre em História Social pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Fórum de Ideias 11A ancestralidade de ontem e de hoje
com Vovó Cici de Oxalá

Nessa palestra, Vovó Cici retoma a relação dos povos negros com a terra e o território a partir da escravização negra na Bahia. Esse é o contexto de surgimento do culto aos ancestrais, àqueles que vieram antes de nós, um culto que necessita da terra para existir e que apresenta diferenças em relação ao culto aos Orixás. Para isso, Vovó apresenta as características desses espíritos e do estabelecimento de seu culto na Ilha de Itaparica – BA e em Salvador – BA, compartilhando com as pessoas ouvintes a sabedoria dos ancestrais preservada pelo culto e a importância da terra e do território para sua manutenção e existência.
Ìyá Àgbà Cici nasceu em 1939 e foi iniciada no culto aos Orixás em 1972. É anciã do Terreiro Ilê Axé Opô Aganjú, exímia contadora de histórias conhecida também como Vovó Cici de Oxalá, e pesquisadora da Fundação Pierre Verger em Salvador. Em 2022 recebeu o título de Cidadã de Salvador e em 2023 o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia. Vovó Cici é coautora do livro “Cozinhando histórias: receitas, histórias e mitos de pratos afro-brasileiros” (Fundação Pierre Verger, 2015) e autora do livro “Oxalá, o grande pai que olha por todos” (Arole Cultural, 2025).

 


 

Apresentação e mediação

Fórum de Ideias 12Bianca Santana

Escritora, jornalista, doutora em ciência da informação e mestra em educação pela Universidade de São Paulo (USP). Autora de Apolinária (Fósforo, 2025); Continuo preta: a vida de Sueli Carneiro (Companhia das Letras, 2021), Arruda e guiné: resistência negra no Brasil contemporâneo (Fósforo, 2022), Quando me descobri negra (Fósforo, 2023), e dos infantis Diálogos feministas antirracistas (e nada fáceis) com as crianças (Camaleão, 2022) e Quem limpa? (Companhia das Letrinhas, 2025).

 
 
 

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