Carnaval 2023

Apoteose do samba… e da literatura!

Dez! Nota dez em harmonia, alegoria e evolução. Na passarela do samba, os enredos versam sobre crônicas, romances, poesias e narrativas urbanas. É campeã de audiência!

Por Angelica Eichner e Vicente Costa
Bibliotecários e curadores literários

Que tal um samba? Tal qual diz o poeta de livros e canções e além do batuque sincopado, que tal um enredo? A Literatura transita por claves de sol Desde que o Samba é Samba e no Carnaval não é diferente. A relação entre samba-enredo e literatura acontece a partir da elaboração e a incorporação de elementos poéticos, narrativos e fontes bibliográficas nas composições das agremiações. Por muitas vezes, um desfile carnavalesco se transforma em plataforma para contar histórias, de forma rica e recriando musicalmente estas histórias para o público.

Ao longo da história dos desfiles carnavalescos a passarela do samba, ou avenida dos desfiles, no Rio de Janeiro recebeu diversas agremiações com enredos em homenagem a livros e escritores. O Sambódromo foi inundado pelo encantamento de fábulas, mistérios e aventuras de grandes personagens, criatividade e persistência de homens e mulheres que dedicaram e dedicam suas vidas à literatura.

Confira conosco esta seleção cronológica de sambas-enredo do carnaval carioca que homenagearam a literatura desde 1987:

1987
G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira – No Reino Das Palavras, Carlos Drummond de Andrade

  • um dos desfiles mais emblemáticos da Estação Primeira de Mangueira foi marcado pela tradição e as homenagens ao escritor mineiro Carlos Drummond de Andrade. Idealizado pelo carnavalesco Julio Mattos com apoio da escritora Nevinha Pinheiro, em 12 carros alegóricos, cada um dedicado a um poema do escritor. A escola venceu o desfile de 1987 e surpreendeu ao apresentar uma comissão de frente composta por Chico Buarque, Aldir Blanc, João Nogueira e Affonso Romano de Sant’anna, entre outros.

 

Fonte: Site SRzd

1992
G.R.E.S. Estácio de Sá – Paulicéia Desvairada – 70 anos do modernismo

  • nesta homenagem ao movimento multicultural modernista, a Escola de Samba Estácio de Sá colheu frutos como o campeã dos desfiles do ano de 1992;

1999
G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira – 100 Anos de Frevo, É de Perder o Sapato!

2001
G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Tijuca Apresenta Nelson Rodrigues Pelo Buraco da Fechadura

  • Unidos da Tijuca escolheu a vida do escritor Nelson Rodrigues para atravessar a avenida, retratando sua jornada no jornalismo policial, teatro, literatura e audiovisual.

2005
G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Uma Delirante Confusão Fabulística

  • com enredo que narra o mundo encantado das fábulas e contos de fadas, com príncipes, princesas, sapatinhos, viscondes, bonecas e animais falantes a Imperatriz Leopoldinense se inspirou nas histórias que por gerações são contadas para as crianças de todo o mundo. Homenageou desde Hans Christian Andersen a Monteiro Lobato através de carros alegóricos, alas e muita cor na avenida.

2006
G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Um por todos, todos por um

  • inspirando-se na ficção de Alexandre Dumas, Os três mosqueteiros, a escola desfilou um enredo cheio de aventuras e desafios vividos pelo “herói de dois mundos”, o italiano Giuseppe Garibaldi, que participou da unificação da Itália e da Revolução Farroupilha no Brasil.

2009
G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel – Mocidade apresenta: Clube Literário – Machado de Assis e Guimarães Rosa… Estrela em Poesia!

  • a avenida dos desfiles transformou-se num grande sarau nesta homenagem a duas importantes personalidades literárias brasileiras, Machado de Assis e Guimarães Rosa. Com versos que fazem referência à genialidade machadiana e ao sonho sertanejo de Rosa, a escola de Padre Miguel apresentou um show de poesia.

2010
G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Histórias Sem Fim

  • com uma comissão de frente fazendo referência aos monges copistas, a Salgueiro desfilou com o enredo baseado no livro, desde a primeira impressão de Gutemberg até as histórias de fantasia que atravessam gerações. Uma viagem pelos livros com carros alegóricos e alas inspiradas em Dom Quixote de la Mancha, Alice no país das maravilhas, Tenda dos milagres, as bibliotecas. É a escrita que mantém vivo o passado.

G.R.E.S. São União da Ilha – Dom Quixote de La Mancha, o Cavaleiro dos Sonhos Impossíveis

  • com 3800 componentes, a escola da Ilha do Governador homenageou o personagem Dom Quixote de la Mancha, escrito pelo espanhol Miguel de Cervantes, considerado o precursor do Realismo na Espanha. O livro foi escrito em duas partes, sendo a primeira em 1605 e a segunda em 1615, poucos meses antes da morte do autor, sem definição das causas até hoje.
Fonte: Riotur.Rio

2012
G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Jorge, Amado Jorge

  • No centenário do escritor brasileiro Jorge Amado, a escola Imperatriz Leopoldinense apresentou enredo em homenagem à vida e obra do autor. “Capitães de areia” foi o título escolhido para abrir o desfile com uma comissão de frente composta por 15 dançarinos representando meninos de rua brincando de ser criança num carrossel. Um espetáculo da literatura, da cultura brasileira.

2013
G.R.E.S. São União da Ilha – Vinícius no Plural. Paixão, Poesia e Carnaval

  • local favorito de Vinicius de Moraes para as férias, a Ilha do Governador é casa da Escola de Samba São União da Ilha, que em 2013 homenageou o poeta. Ao longo de 65 minutos a escola apresentou a vida e obra do autor.
Fonte: Riotur.Rio

2016
G.R.E.S. Beija-flor – Mineirinho Genial! Nova Lima – Cidade Natal. Marquês de Sapucaí – O Poeta Imortal!

  • mais conhecido por seus cargos políticos, o também poeta Marquês de Sapucaí, não só dá nome à avenida onde ocorrem os desfiles das escolas de samba desde 1984, mas também ao enredo da Beija-flor em 2016.

G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel – O Brasil de La Mancha: Sou Miguel, Padre Miguel. Sou Cervantes, Sou Quixote Cavaleiro, Pixote Brasileiro

  • o que seria o Brasil de Dom Quixote? O cavaleiro delirante inspirou alas e alegorias que brincaram com a cultura brasileira, passando por questões políticas em seus 80 minutos de desfile. Canhões que lançam flores, ratos corruptos, moinhos de vento que transformaram-se em torres de petróleo, mas também alas que mostram a beleza da literatura de nossa terra, das canetas e dos livros que são mais importantes que as armas.

2017
G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – A Divina Comédia do Carnaval

  • a obra mais conhecida de Dante Alighieri, “A divina comédia”, poema épico do século XIV, é a inspiração para o enredo da Acadêmicos do Salgueiro em 2017. Assim como na obra de Dante, o desfile foi dividido em 3 setores, Inferno, Purgatório e Paraíso. É a Divina Comédia carnavalizada.

G.R.E.S. Beija-flor – A Virgem dos Lábios de Mel – Iracema

  • a escola de Nilópolis levou para a passarela do samba uma das principais obras que marca o romantismo brasileiro, Iracema de José de Alencar. História mítica do povo brasileiro e da literatura.

2019
G.R.E.S. São União da Ilha – A peleja poética entre Rachel e Alencar no avarandado do céu

  • o Ceará representado na literatura de seus maiores escritores, Rachel de Queiroz e José de Alencar. Com recorte totalmente literário, a União da Ilha levou para a avenida a cultura e os costumes do povo cearense tão bem retratado nas obras de seus artistas. Obras como “Iracema“, “O Guarani” de José de Alencar, e “O quinze” e “Memorial de Maria Moura“, de Rachel de Queiroz inspiraram alas e alegorias.

2024
G.R.E.S. Porto da Pedra – Lunário Perpétuo: A Profética do Saber Popular

  • escrito em 1594, o pequeno livreto com a transcrição de saberes populares tornou-se o conselheiro e orientador da sociedade do velho mundo. “Lunário Perpétuo”, escrito pelo astrônomo e naturalista espanhol Jerónimo Cortés, chegou ao Brasil em meados do século XVIII, sendo traduzido por Antônio da Silva de Brito. Viajou o mundo e séculos, sendo proibido por diversas vezes, em 2024 é ele o enredo da escola de São Gonçalo.

G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Com a sorte virada pra lua segundo o testamento da cigana Esmeralda

  • mais uma escola a trazer enredo baseado na literatura, a escola da zona oeste do Rio de Janeiro desfila em homenagem a cultura cigana, baseando-se num cordel escrito há mais de 100 anos pelo poeta paraibano Leandro Gomes de Barros. A cigana Esmeralda é a personagem principal do cordel que segundo o carnavalesco da escola, Leandro Vieira, é como um manual para trazer sorte.

G.R.E.S. Portela – Um defeito de cor

  • considerado um dos livros mais importantes dos últimos tempos, “Um defeito de cor”, da escritora brasileira Ana Maria Gonçalves, dá nome ao enredo da Portela de 2024, que através da narrativa literária contará a história de uma mãe africana que vem ao Brasil procurar por seu filho e lutar pela libertação de seu povo. É a história do Brasil e da literatura marcando a avenida do samba.

Fontes

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