Literatura de Cordel - Cordelteca do Sesc Tijuca

Literatura de Cordel – Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro

Nossas Analistas de Cultura (Eliana Costa, Iara Souto Costa e Marcelle Pontes) falam sobre a importância da Literatura de Cordel no cenário da cultura nacional. 

A Literatura de Cordel – gênero literário que recebeu o título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro, no ano de 2018 – teve sua origem por aqui nas regiões Nordeste e Norte, mas hoje já é difundida em todo território nacional, atestando sua relevância cultural para nós brasileiros.

Além de gênero literário, o cordel era veículo de comunicação e ofício, garantindo a sobrevivência de muitos cordelistas. Inserido em nossa cultura, no século XIX, tornou-se uma forma de expressão da cultura brasileira, trazendo contribuições da cultura africana, indígena, europeia e árabe, entoando as tradições orais, a prosa e a poesia. O termo “cordel” era principalmente associado à forma editorial dos textos, veiculados em pequenas brochuras impressas em papel barato, vendidas suspensas em cordões de lojas de feiras e mercados.

Os poetas cordelistas modernos definem o cordel como gênero literário constituído obrigatoriamente de três elementos principais: a métrica, a rima e a oração. Esses elementos associados às xilogravuras, que são as ilustrações das histórias estampadas nas capas dos livretos, formam o Cordel, ou melhor, a Literatura de Cordel, uma fonte de informação da cultura de um povo, de um determinado período e a expressão das próprias histórias criadas pelos cordelistas.

Ao contrário do que muitos pensam o Cordel não foi criado no Brasil; já existia no período dos povos conquistadores greco-romanos, fenícios, cartagineses, saxões e chegou na Península Ibérica – Portugal e Espanha – por volta do século XVI. Por aqui, chegou no balaio dos nossos colonizadores, instalando-se na Bahia, mais precisamente em Salvador, que à época era a capital brasileira. De Salvador, a Literatura de Cordel se difundiu para os outros estados nordestinos, e pouco depois, conquistou todo Brasil.

Dado seu valor cultural e histórico, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), concedeu à Literatura de Cordel, em setembro de 2018, o título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro, sendo alçada a bem cultural de natureza imaterial, patrimonializada pelo valor simbólico e sua representatividade na Cultura Popular Brasileira.

Sesc RJ e suas Cordeltecas

Em 2018, com o objetivo de apoiar o reconhecimento do cordel como Patrimônio Imaterial do Brasil, o SESC RJ inaugurou cordeltecas fixas e itinerantes nas Unidades Copacabana,  Madureira, Niterói, Nova Iguaçu, Ramos, São João de Meriti e Tijuca. Também realizou ações para destacar a importância desse material em atividades externas e em escolas públicas.

Cordelistas do Rio de Janeiro

Vimos que foi no nordeste que a Literatura de Cordel tomou vulto e são de lá também os cordelistas mais destacados pela ABLC (Academia Brasileira de Literatura de Cordel). Porém, existem destaques do cordel no Rio de Janeiro, como os cordelistas: Edmilson Santini, Fábio Sombra, Gonçalo Ferreira da Silva, João Batista Melo, José Franklin, Victor Alvim Lobisomen, dentre outros.

  • Edmilson Santini – Escritor, cordelista, autor e ator do Teatro em Cordel;
  • Fábio Sombra – Escritor e cordelista. Suas obras para crianças e jovens geralmente abordam temas da cultura popular brasileira como: Folias de Reis, desafios em versos e cantorias de viola. Seus livros “A lenda do violeiro invejoso” (2005) e “Vladimir e o navio voador” (2013) foram premiados pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ com os selos de “Altamente recomendável para o jovem”. Fábio Sombra é membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, onde ocupa a cadeira de número 03, dedicada ao poeta Firmino Teixeira do Amaral;
  • Gonçalo Ferreira da Silva – Poeta, contista, ensaísta e, atualmente, Presidente da Academia Brasileira de Cordel. Nasceu em Ipu, Ceará;
  • João Batista Melo – Nasceu em Itabaianinha, no estado do Sergipe. É cordelista e possui mais de cem títulos em cordel. Ministrou palestras e oficinas de Cordel em escolas e universidades como UFRJ e PUC;
  • José Franklin – livreiro e cordelista, conta a realidade e usa a liberdade criativa para criar utopias sobre o dia a dia no Complexo do Alemão e recontar histórias da cidade, do país, do mundo (acesse seu blog aqui);
  • Victor Lobisomen – Carioca, compositor, cantador e tocador de capoeira, umbanda e samba. Poeta popular membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ouça suas produções aqui).

Mulheres no Cordel

No início do século XX, numa sociedade sem jornais, rádios, TVs e com poucas escolas, o cordel proliferou por vários estados do Nordeste. No entanto, desde o início da publicação dos folhetos até a década de 1970, a mulher cordelista ainda estava invisível, não publicava oficialmente. E que “apesar de poder-se encontrar um ocasional folheto escrito por mulher no Nordeste, praticamente todos os profissionais são homens”. O cordel pertencia a um domínio preferencialmente masculino como atesta a citação acima e as poetisas eram pouco conhecidas neste universo escrito.

Doralice Alves de Queiroz, em sua tese Mulheres Cordelistas: Percepções do universo feminino na Literatura de Cordel, relata com riqueza de detalhes, a saga das escritoras de cordel, que precisavam utilizar pseudônimos masculinos para que suas poesias fossem publicadas.

Recentemente, no dia 27 de junho de 2020, a cordelista sergipana Izabel Nascimento ministrou uma palestra do III Encontro de Cordelistas da Paraíba, falando sobre o tema “O cordel como ferramenta de transformação social”, fez um recorte histórico para denunciar o traço forte do machismo que também ocorre nesse gênero literário. A sua intenção foi vislumbrar mudanças numa poesia que ainda não reconhece, não valoriza nem sequer respeita o papel e o protagonismo da mulher cordelista. “Foi a primeira vez que um grupo de mulheres se reuniu e resolveu organizar um movimento de denúncia e enfrentamento ao machismo no cordel e de ação em defesa de todas as mulheres cordelistas”, conta Izabel. E assim nasceu a campanha #cordelsemmachismo, atualmente formada por um grupo denominado Movimento das Mulheres Cordelistas contra o Machismo. No momento, são mais de 70 coletivos de diversos estados do Brasil aliados à causa, totalizando cerca de 1.500 mulheres unidas.

Acesse a matéria completa publicada pelo Diário do Nordeste e saiba mais sobre o Movimento das Mulheres Cordelistas contra o Machismo.

Cordelistas que se destacam nacionalmente são:

  • Dalinha Catunda – cordelista, escreve poesia desde que “se entende por gente”, graças à influência da mãe poetisa e de tia Isa, professora e contadora de histórias. Mas foi a saudade de casa, trazida pela mudança para o Rio de Janeiro, que despertou seu interesse pelo cordel. Já escreveu mais de uma centena de cordéis e, hoje, não só é membro da Academia dos Cordelistas do Crato (ACC), como também da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC);
  • Izabel Nascimento Sergipana de Aracaju, pedagoga, poetisa e cordelista, filha do casal de poetas populares pernambucanos, Pedro Amaro do Nascimento e Ana Santana do Nascimento. É presidente da Academia Sergipana de Cordel (ASC), possui quase 100 obras do gênero, e lançou, em 2018, o livro “Sementes de Girassóis”. Mais do que escrever cordéis, Izabel Nascimento luta pela difusão da literatura cordelista por meio de projetos como “Saúde Mental em Cordel” e a organização do livro “Das Neves às Nuvens — I Antologia das Mulheres do Cordel Sergipano” (conheça seu canal);
  • Jarid Arraes –  escritora, cordelista e poeta brasileira, autora dos livros “As Lendas de Dandara”, “Heroínas Negras Brasileiras em 15 cordéis”, “Um buraco com meu nome e Redemoinho em dia quente”. Atualmente, vive em São Paulo, onde criou o Clube da Escrita Para Mulheres;
  • Mari Bigio – Mariane Bigio é uma entusiasta da palavra. Nasceu pernambucana de Recife, e se tornou Escritora, Contadora de Histórias, Cantora e Radialista. Ministra Oficinas de Literatura para crianças, jovens e educadores. Em 2007, lançou seu primeiro folheto de Cordel, “A Mãe que Pariu o Mundo”, premiado pela Prefeitura do Recife. Daí por diante a poesia tomou conta da sua vida.  Estará na programação do SESC Convida (conheça seu canal).

Cordéis disponíveis gratuitamente

A Academia Brasileira de Cordel (ABLC), o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular e a Fundação Casa de Rui Barbosa disponibilizam acesso gratuito a diversos cordéis.

Saiba mais: 

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