Questão Identitária: gênero e raça
Registros de autores negros dão subsídios para nortear empoderamento da população LGBTQIA+ negra e periférica, trabalhando a questão identitária dos indivíduos.
A cada dia que passa, discussões em torno da sexualidade avançam e ajudam a compreender as relações e identidades LGBTQIA+ em nossa sociedade; bem como as opressões sofridas e reproduzidas diariamente. A dimensão e importância desse debate levaram à necessária compreensão das diferenças de vivências entre representantes do movimento LGBTQIA+ e a concepção de que, embora existam pautas gerais, caras ao movimento como um todo, existem particularidades que necessitam de atenção especial. É o caso de homossexuais que vêm de regiões periféricas, das favelas e subúrbios – frequentemente negros – cuja imagem na TV e no senso comum passa longe da respeitabilidade e da compreensão de suas personalidades. Pelo contrário, sua representação é quase sempre caricatural e rebaixada.
Para pensar na importância de abordar as especificidades de homossexuais negros e pobres, apresentaremos algumas importantes leituras sobre o tema. Contudo, antes de entrar propriamente no tema da sexualidade, é preciso entender o que existe antes da sexualidade, o gênero. Afinal, são as performances e expectativas sociais em torno dos gêneros que motivam a própria distinção das sexualidades.
Nesse sentido, os escritos de Audre Lorde são importantíssimos para a compreensão da vivência de mulheres negras e lésbicas, pois capturam a sensibilidade de mulheres que lidam com diferentes formas de opressão diariamente, e frequentemente associadas. Daí a importância de termos uma data como o 25 de julho, Dia da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha; justamente pela dimensão própria que é dada a vivência dessas mulheres.
Abordagem similar é feita pela filósofa Sueli Carneiro, em seu livro ”Enegrecer o Feminismo: a situação da mulher negra na América Latina a partir de uma perspectiva de gênero”.
No artigo “Quem ainda ri da bicha preta, efeminada e pobre?” Thiago Duque aborda de forma precisa circunstancias vividas pela população LGBT periférica, apontando para a forma oportunista com que determinados agentes se apropriam da pauta, fortalecendo velhos preconceitos há muito tempo alvos de críticas e lutas. Lançando luz sobre a construção da masculinidade e as transgressões permitidas por ela, o autor argumenta a favor da superação do estereótipo formado sobre gays e transexuais das favelas e regiões pobres.
Marcos Wanderbaster – em artigo escrito para o Portal Geledés – reflete sobre a construção da masculinidade negra e dos desafios que gays afeminados e negros precisam superar para ocupar espaços na nossa sociedade, em que o racismo dialoga com a homofobia. A ativista do movimento negro e escritora Angela Davis destaca, em artigo para o Jornal Folha de São Paulo, o elo entre a lutas dos negros e a luta LGBT. Segundo a autora, as ações coletivas podem produzir transformações radicais na sociedade.
São leituras como essas que irão abrir caminhos para a compreensão e superação dos problemas particulares enfrentados por homossexuais que vem de regiões pobres e periféricas. A cada dia surgem novos autores e autoras da temática, preparados para fazer a discussão avançar e evoluir; e nada como a leitura e a educação para modificar os estereótipos e promover a inclusão dos homossexuais negros e pobres na nossa sociedade, trilhando o caminho para uma verdadeira igualdade de direitos e oportunidades.
CONHEÇA MAIS SOBRE A TEMÁTICA LGBTQIA+ NA LITERATURA
Selecionamos informações, materiais e indicações de livros – alguns disponíveis gratuitamente na internet – que nos permitem conhecer mais sobre o assunto:
- Livro “A Resistência dos Vaga-lumes: mobilização da comunidade LGBT no Brasil”, de João Silvério Trevisan. Objetiva. 2020. Disponível para download gratuito
- Espetáculo teatral ”40 anos esta noite”, disponibilizado na íntegra no site YouTube pelo escritor da peça Felipe Cabral
- Série de podcasts oriundos da programação do Prêmio Mix Literário, com temas como: “70 anos de Caio Fernando Abreu”; “LGBTQIA+ nas histórias em quadrinhos”; “Negritudes LGBTQIA+”, entre outros
- Livro “Viagem Solitária: a trajetória pioneira de um transexual em busca de reconhecimento e liberdade”, de João W. Nery. Leya. 2018
- Livro ”O Garoto do Cabelo Azul”, de Marlon Souza. Disponível para leitura online
- Livro “BR-TRANS”, de Silvero Pereira. Editora Cobogó. 2016
- Livro “Coleção Slam, Volume LGBTQIA+”. Editora Autonomia Literária, 2019
- Livro “Antes que seja tarde: para se falar de poesia”, de Tom Grito (publicado sob o heterônimo Letícia Brito). Editora Malê, 2019
- Livro “Lua nos Pés”, de Pieta Poeta. Editora Venas Abiertas, 2018
- Livro “Lundu”, de Tatiana Nascimento. Padê Editorial, 2017. Disponibilizado pela autora em seu blog
- Canal no Youtube do programa “Tempero Drag”, de Rita Von Hunt – nome artístico de Guilherme Terreri – drag queen, ator, comediante e professor de literatura
- Matéria publicada no site Brasil de Fato, com indicação de livros – “De clássicos à novidade, dez livros para visibilizar a homossexualidade na literatura”, por Luiza Mançano
- Livro “Não conte nosso segredo”, de Julie Anne Peters. Universo dos Livros. 2019. Disponível para download gratuito
- Série de livros “Todo Teu”, de Nuno Oskar. Index E-books. Disponíveis para download – alguns são gratuitos
- Registro em vídeo da poeta trans Valentine no campeonato de Slam Flup 2019, na qual conquistou o vice-campeonato
- Registro em vídeo do poeta Dudu Neves no campeonato carioca de Slam Poetry 2018, na qual foi um dos vencedores
- Registro em vídeo de Pietá Poeta no campeonato de Slam Flup 2019, no qual conquistou o primeiro lugar
- Livro “O Segundo Armário: Diário de um Jovem Soropositivo”, por Gabriel de Souza Abreu. Index E-Books. 2014. Disponível para download gratuito
- Artigo acadêmico “A construção da igualdade-política e identidade homossexual no Brasil da ‘abertura’” por Edward MacRae