II Seminário Internacional de Mediação Cultural Sesc RJ

Seminário Internacional de Mediação Cultural Sesc RJ: Segundo dia do evento debate futuro dos museus e internacionalização

Curadores, artistas e agentes culturais discutiram no na segunda edição do Seminário Internacional de Mediação Cultural Sesc RJ fronteiras físicas e sociais da arte.

O dia 2 do II Seminário Internacional de Mediação Cultural do Sesc RJ teve início nesta quarta-feira (8) abordando o debate sobre a possibilidade – ou não – de descolonizar a instituição museu. A primeira mesa foi composta, presencialmente, por Lorraine Mendes, curadora da Pinacoteca do Estado de São Paulo, e Beatriz Lemos, curadora adjunta do MAM Rio. Direto do México, participou ao vivo Pedro Lasch, artista visual e professor da Duke University.

Segundo dia de Seminário de Mediação Cultural debate futuro dos museus e internacionalizaçãoAbrindo a conversa, Lasch apresentou métodos artísticos sobre como “trazer e dar visibilidade ao que o colonialismo reprimiu, enfatizando a continuidade da resistência e a presença histórica”. Dentro dessa proposta, o artista contou que vem trabalhando, desde 2007, a série artística “Black mirror/Espejo negro”, que já passou por diversos museus do mundo.

Lasch propôs aos museus analisar os acervos latino-americanos e escolher obras de todo o continente, posicionando um “espelho negro” ao fundo de cada obra. Com a iluminação cênica, o público se via refletido ao lado das formas humanas dos objetos, “entrando” na obra. “Isso afeta o trabalho artístico: se você é afro-americano, ou se você tem origem indígena, se você é uma criança ou um imigrante alemão – cada um vai mudar o entendimento da arte de acordo com quem está em frente ao espelho, e isso é intencional”, detalhou.

Ato contínuo, Lasch exibiu obras de outra exposição individual, apresentando o segundo método artístico: “Membro fantasma: Superidentificação e mimetismo, expondo o poder colonial usando e simulando suas próprias formas”. O pintor contou que estava em Nova York no dia da queda das Torres Gêmeas e, em meio à comoção, se impressionou com a rapidez da resposta militar dos Estados Unidos: “Naquele momento pensamos ‘talvez os Estados Unidos vão mudar de pensamento’, mas [o ataque] foi usado como uma desculpa para esse imperialismo continuar”.

A partir dessa análise, o mexicano produziu diversas pinturas, mesclando estilos contemporâneos diversos, em que “reconstruiu” o World Trade Center em vários países e contextos diferentes, mantendo as proporções gigantescas originais dos prédios. Entre elas, ele destacou uma feita em 2006, durante “um dos muitos bombardeios a civis em Gaza”, em que insere as Torres Gêmeas ao lado de colunas de fumaça saindo de outros alvos atacados, no chão, sugerindo prédios civis.

Na sequência, a curadora fluminense da Pinacoteca de São Paulo, Lorraine Mendes, iniciou sua fala sem meias palavras: “Recebi com alguma angústia esse convite do Sesc, porque… como eu posso falar de descolonizar o museu durante 40 minutos, uma hora, se para mim a resposta é: ‘não tem como’?”.

Para Mendes, que contou ser da classe trabalhadora, o impedimento é estrutural: “Quando a gente fala dos museus e instituições no Brasil, estamos falando de instituições que são moldadas e atuam dentro de uma sociedade que é constituída e tem a sua base no supremacismo branco e no racismo como algo que modula todas as nossas relações”.

No contexto dos museus e centros de arte, a curadora falou sobre sua investigação, no doutorado, da participação negra e indígena no imaginário pictórico nacional: “Chego nos museus como ferramenta da colonialidade, como um lugar de impossibilidade”. Mendes estuda a formação da ideia de nação por imagens épicas: “Quando vamos ao Museu Nacional de Belas Artes, em que vemos cenas épicas, na minha tese estudo qual o papel das pessoas negras e indígenas nesses grandes acontecimentos nacionais?”.

Sobre a prática curatorial, Mendes analisou que, por mais que tenham curadoria, mediação e obras de artistas negros, indígenas e LGBTQIAPN+, “quando vemos a ficha técnica desses museus, os patronos, a OS que faz a gestão e mesmo o programa de aquisição de acervo (é adquirido dos artistas no valor do mercado ou eles doam as obras?), a estrutura ainda corresponde a um sistema de supremacismo branco”, criticou.

DRIBLANDO A IMPOSSIBILIDADE
Para contornar a impossibilidade de descolonizar, a palestrante estuda a ideia do drible no futebol: “Eu sou apaixonada por futebol. Na minha pesquisa, eu entendo o futebol como único lugar possível para o homem negro ser o herói nacional. Quando os times brasileiros começam a permitir a presença de homens negros, eles podem jogar, mas são mais marcados pelos árbitros. Para evitar essa marcação, vem a ideia de trazer elementos do samba e da capoeira, que são os dribles, para driblar essa impossibilidade”, analisa. “Driblar é a tentativa de jogar um jogo mais justo num conjunto de regras que existe para te ferrar, que impossibilita o seu sucesso. Então uso muito o drible para pensar essa agência de poética negra contemporânea nos exercícios de curadoria”.

A curadora-chefe do MAM-RJ, Beatriz Lemos, por sua vez, que se apresentou como filha de mãe negra e pai indígena, fez coro à linha de pensamento de Mendes: “Concordo que não é possível descolonizar, mas concordo que existem práticas diárias”.

Lemos apresentou experiências em três grandes exposições que curou no MAM: “A memória é uma invenção” (2021 a 2022), com obras do MAM, do Ipeafro de Abdias Nascimento e do Acervo da Laje, de Salvador, e repensou patrimônio e acervo; “Atos de revolta: outros imaginários sobre independência” (2022 a 2023), que enfocou uma série de insurreições e motins da história brasileira; e Nakoada (2022) – estreia do artista indígena Denilson Baniwa na curadoria.

“Nakoada é uma estratégia de guerra dos Baniwas que é analisar profundamente o inimigo e trazer para si uma grande motivação, que é a continuidade do povo”, explicou. “Se originalmente a tática era usada pelos Baniwa, hoje é repensada para a relação com culturas não indígenas”, acrescentou.

No tocante à aplicação das teorias decoloniais, Lemos falou sobre um exercício permanente: “Como sair da teoria decolonial dos livros e ir para a prática é algo em que a gente deve acordar pensando”, resumiu.

A mediação da mesa foi feita por Roberta Zanatta, responsável pela supervisão do Núcleo de Catalogação e Indexação do Instituto Moreira Salles.

INTERNACIONALIZAÇÃO É MOTE DE PAINEL DA TARDE
À tarde, o Seminário reuniu gestores e artistas para discutir iniciativas de internacionalização cultural, e mais especificamente a experiência do Intercâmbio Fecomércio/Sesc RJ e Casa de América, em Madri.

Abrindo o debate, a Superintendente de Cultura da Secretaria de Estado de Economia Criativa do Rio de Janeiro (Secec), Cristina de Pádula Cattan, falou sobre os bastidores do edital publicado pela secretaria para o intercâmbio: “Em 2022 foi criado o primeiro edital de retomada cultural. Foi um edital no valor de R$ 40 milhões, e uma das áreas dele era voltada para os 200 anos da independência, e acabou trazendo um olhar para a questão da internacionalização”, lembrou.

Um convite à Orquestra Chiquinha Gonzaga, da cidade do Rio, para uma turnê pela Europa, iniciou os contatos entre a Secec e a Casa de América, em Madri.

Cristina contou sobre a importância do Comitê Gestor do Fundo de Cultura, formado por membros da Secretaria de Estado de Cultura e pela sociedade civil, que permitiu a realização do projeto. No mesmo intuito, foi formado pela Secretaria de Estado de Cultura o Comitê de Internacionalização da Cultura, com representantes do Sesc, assessoria da Casa Civil, curadores e artistas.

A gestora listou ainda a parceria do Sesc RJ para a contratação direta dos artistas, e a importância do Fundo Estadual de Cultura para financiar a empreitada. Para a missão, foi elaborado o Edital Casa de América, que contemplou cinco áreas: Dança, Música, Artes visuais, Teatro e Internacionalização artística e cultural.

Em seguida, o diretor de programação da Casa da América de Madri, Luis Prados, falou sobre a relevância da iniciativa: “Para a Casa de América foi um grande presente. Nosso propósito, de um lado, é mostrar em Madri o que está acontecendo na América, e por outro, promover o intercâmbio entre América, Espanha e Europa”, resumiu. E celebrou o sucesso da programação: “A casa estava lotada sempre durante o evento, e até agora estamos vendo os frutos disso. O Marçal Vianna, aqui presente, é um exemplo disso: o filme que ele apresentou no intercâmbio foi convidado para outro festival em Madri”.

Prados fez uma retrospectiva sobre a instituição Casa de América, inaugurada em 1992 e a mais antiga com exibição ininterrupta do audiovisual latino-americano, há 31 anos.

A mesa trouxe ainda os depoimentos de dois artistas que foram contemplados pelo projeto e viajaram com seus trabalhos a Madri, Ribamar Ribeiro, ator, diretor e dramaturgo que fundou Os Ciclomáticos Companhia de Teatro; e Marçal Vianna, diretor de cinema que acumula mais de 70 prêmios com os curtas “Neguinho”, “O último cinema de rua” e “Deus não deixa”. Os criadores contaram emocionados como a experiência abriu as portas para outras oportunidades em suas áreas. O debate teve mediação de Leandro Luz, Analista de Cultura em Audiovisual da Gerência de Cultura do Sesc RJ.

O II Seminário Internacional de Mediação Cultural acontece até sexta, dia 10, na unidade do Flamengo do Sesc.

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